sexta-feira, 6 de abril de 2012

33

Eu não tenho a menor noção de quem eu seja. Todo o ego, auto-afirmação, social pose, tudo vão, tudo vil. Na realidade, eu morro de medo de quem eu seja, fujo incansavelmente das minhas próprias verdades. Engraçado, nossa galáxia tem 120 mil anos-luz de diâmetro, e o sistema solar leva 250 milhões de anos para dar uma única volta ao redor de sua órbita. Sou um átomo dentro da densa vastidão universal. Parece tão tolo, tão insignificante, esse desejo ardente de encontrar-me e reencontrar-me todos os dias. Mas também temos mais neurônios no cérebro do que estrelas na via-láctea, sabe? Eu sou do tamanho da imensidão. Consciente. Minha mente inquieta alavancada por um coração quente como lava. Os pensamentos que me rodeiam, ora como borboletas, ora como corvos, me fazendo ignorar quem se esconde por trás do buraco, o meu mais puro intrínseco eu; reflete na luz cortante da perseverante insatisfação, eterna graça de estar constantemente incompleta. Só sei que nada sei. Sou.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Do you?

I do. Eu aceito e te aceito de todo o meu coração. Tuas verdades repetitivas, tuas mentiras tão bem camufladas. Aceito que não sejas quem eu queria, e aceito que simplesmente não sejas na minha vida. Eu aceito que dói, e faço dessa dor um alívio. Aceito os teus erros pra poder aceitar esse meu próprio de amar docemente teu jeito de me olhar. Aceito tua loucura, pra que não me sinta louca sozinha. Pra fazer jus a essa clareza repentina me guiando ao certo. Já neguei tua ida, já tive raiva, já te quis mal. Já tentei negociar-me em deleite à outras, já te tenho tatuada em minha pele... Bonita, eu vi o mundo perder sentido. Agora vem a certeza abençoada e leve da aceitação: and so it is, erramos. Fizemos de nós dois nós. Eu que sou boa nisso de atar até outrora ainda me via presa, mas agora não. Aceitar que te sinto é tudo que me leva a liberdade. Respiro e inspiro livre! Livre das amarguras da mentira, posso jorrar meu coração em palavras, me permitir sentir, te amar limpo. Aceito a mágoa e, perdoando a ti e a mim, destilo-a em pura afeição. Aceito que seja somente dentro de mim, e torço para que aceites que dentro de ti também não morreu. Aceito que sejas feliz: vai e derrama o teu olhar meu ao acaso, alimente-se de outra fonte, sorria por outro sorriso, chore de outras angústias. Te quero bem, forte, sensata; lúcida e louca como sempre. Te quero em paz, pequena. Que assim eu vou estar em paz também. Que assim todo o meu amor fica em paz. Que assim eu posso fechar os meus olhos a noite como quem beija os teus, te fazer uma oração, repetir pra mim mesma: "I do."

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Yes, love still gonna save me.

Me prometo não deixar de me amar e me querer bem nem mesmo por um segundo. Prometo-me ser justa com quem eu sou. Prometo-me ter consciência onipresente do meu valor. Me prometo não me agredir, não me ferir, não levar a fundo ferro e fogo no coração. Prometo-me de toda a minha essência ser fiel com meus ideais. Me prometo não permitir que minha vida se leve a um abismo de incertezas, dúvidas e quases. Me prometo não me apaixonar pelo talvez. Prometo-me estar pronta a abrir um sorriso sempre, viver cada dia com a minha já costumeira intensidade, amar tudo ao meu redor como bem sei fazer. Me prometo prometido que jamais vou me achar pior ou melhor que ninguém que passe pelo meu caminho na mesma direção. Me prometo não dar abertura nem vazões para que agulhadas de esperança me machuquem. Prometo-me ter em minha mente a tranquilidade e a certeza de ter dado meu melhor, ter feito a minha parte e ter sido gente de verdade, com palavras genuínas e atos de coragem. Prometo-me tirar da minha vida tudo que me fizer mal. Prometo saber que colherei tudo que tenho plantado, prometo me acalmar ao lembrar o quão amadas foram essas sementes, com quanto zelo cada uma foi regada, o quão viçosas nascerão as flores. Prometo-me zerar qualquer expectativa, ser madura e racionalizar, ser esperta. Me prometo não me torturar em falsos sinais, não procurar razões para decepção. Prometo-me perceber o fim e enfim, prometo-me ser, estar, ficar e permanecer apaixonada pelo meu próprio amor, que ele, que é absurdo, gigante e puro, ele e só ele, me salvará.

domingo, 21 de agosto de 2011

tuphoria

Euphoria. Meu coração dispara num reparo. Deliciosamente retalhados, eu sinto cada prisma de pequenos detalhes transbordar da minha cabeça como lava ou água de chuva torrente. Euforicamente ela é a cura de todos os antigos ruídos, de todas as angústias. E com ela, a paz de toda a alma, amor, calma, pele quente colada na minha, numa unção densa de carinho. Pulsando ainda, eu fecho os olhos para poder olhar dentro de mim, contemplar o bonito entusiasmo que se desperta. Respiro, inspiro e a insiro nos meus mapas, como estrela e cartografias, e a tua-pintinha-favorita-minha. E não só trago contentamento no amar, mas em todos os verbos conjugáveis do meu ser, em cada pedacinho latente do meu corpo. Faz mais sentido por ela, vale a pena um pouco mais se tiver aquele sorriso sincero no final do dia. Um sopro, brisa leve, doce, tenra, e ainda cheia de brilho. Livre. Rainha do meu coração. Minha amada, minha menina. Preenchendo lacuna que já nem lembrava que existia. Eu-pho-ri-a.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

32

Senti a boca seca. Eu nunca fui o tipo amedrontada, sabe. Sempre tive esse quê de corajosa, sempre me desafiando, indo até as últimas adversidades. Disposta a dar o mesmo lado da face à tapa vezes e vezes, quase que inconseqüente. Mas é que nessa última vez, foram tantos e tão fortes que imagino o sangue nem sequer ter parado de escorrer ainda, pequena. Eu nunca me vi como frágil, e também não acho que sejas. Sinto que o que nos uniu de alguma forma naquela quinta-feira desfocada foi esse instante despedaçado de ambas. Apesar de toda a vodca e da amnésia alcoólica, não sei explicar o porquê, mas cada momento em que estive contigo é perfeitamente claro em minhas memórias. O momento em que te beijei pela primeira vez, a nossa respiração ofegante, o nosso paraíso atrás de uma porta de banheiro... E outra coisa bem nítida aqui é lembrar que teus olhos, os mesmo olhos que me hipnotizaram na manhã seguinte, me pareciam embotados num sentimento disperso de toda aquela festa, fragmentados. Motivo de eu te ver pisciana, cabendo perfeitamente em meu aquário. Bonita num mundo a parte, sendo levada por mim ao meu próprio. Os bloqueios são também meus; eu, que tenho Impulsiva como último nome, me deparei em frente a um ponto de luz no meio de toda essa bagunça. Senti vontade de colar teus pedacinhos um por um, te devorar muito além de com bocas e mãos, mas me contive a te ter supérfluo, para não perder-te em meio a tanto caos. Assombrada, receosa de me permitir. Permitir sentir toda a tua complexidade, apesar do tudo já absorvido entre os nossos carinhos cheios de entrelinhas. E ainda assim fui falha, visto que te enxerguei muito além, e que habitastes meus devaneios durante os dias afim mais do que esperava. Eu sei que podia te escrever muito melhor do que essas linhas bem do tortas, mas eu acho que é assim que as palavras saem quando elas tem essa urgência, esse desespero por trás. Também acho que as obras-primas saem de sentimentos de dor, de tristeza. O que me despertas é deveras doce para provocar palavras de um poeta amargurado.

Me peguei pensando coisas engraçadas. Do tipo 'Eu gosto do jeito que ela pisca.' Do tipo 'Ela parece meu pokemón favorito.' Do tipo 'É, Eevee, eu escolho você.'

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

31

E vai doer um pouquinho menos a cada dia. Hoje dói na garganta e nos pulmões, como berros de angústia reprimidos. E depois vai doer no estomago porque eu vou tentar remoer a história. Então vai se dissipar por todo o corpo, para os pés e a nuca e os olhos e até os cotovelos. Por fim doerá no meu sexo, e acaba. Eu sempre que fui bem desentendida, custosa pra compreender entrelinhas. Não me dou bem com ironias e sarcasmos, eu sou bem clara, limpinha. Mas com certeza é a mais complexa de todas, com início e fim e sem meio, sem entremeios, que eu já vivi. Era uma vez um casal de menininhas lésbicas apaixonadas vivendo numa ilha ensolarada. E daí o amor morreu.

Mesmo sabendo que todos os erros foram seus, ursinha, eu me sinto culpada. De não ter percebido a falta de reciprocidade, de não ter reconhecido tuas reais necessidades. Não que isso fosse nos salvar, mas te salvaria um pouquinho, e me salvaria um monte. E agora eu fui embora, amor, e você... você voltou pra ela. E eu voltei pro escuro. Apesar de que toda essa neve é bem do clara, e limpinha, eu voltei pro meu escuro dark sombrio modo de enxergar as coisas. Love is fake, everybody's sad, life is dirty, i can see rotness in every little thing.

Eu 'tô no topo do mundo, amor. Eu ia gostar de conhecer tudo isso contigo, mas agora não és mais minha nunca mais. Ainda dói mas dói menos quando eu lembro que passa. Tudo passa. Eu sei que a tua frase preferida é 'Você é imatura', mas desculpa amor, você é tão tolinha. De achar que eu sou crua, porque eu já vivi tanta coisa, tanta coisa ruim. Eu já 'tô apodrecendo, e é esse meu medo, de apodrecer antes de ter sido feliz.

Acho que naquele dia 30, antes da meia-noite, eu fui feliz. Acho que as coisas ficam realmente muito boas antes de piorarem. Ou seria o contrário? A cinderela também virou abóbora depois da meia-noite e ela teve final feliz. Talvez eu tenha também. Talvez eu ame desse jeito louco que eu te amei de novo, e seja assim feliz de novo. E talvez dessa vez seja completo. Sem restrições. Até melhor.

Eu 'tô continentes longe de casa agora, milhas e milhas e milhas de água nos separando. E saber que as nossas próprias barreiras invisíveis são mais fortes do que todo esse oceano de distância. Tomara que ela te faça feliz. Mas eu acredito que não. Acredito que ela já tinha desperdiçado a chance dela, sabe. Quem sabe? No fundo do fundo do fundo eu queria que o mundo fizesse click e daí tu resolvestes me amar. O que ia ser triste também porque eu não vou te amar pra sempre. Nem até o final do mês.


Têm gente que fala que amor de verdade é só uma vez na vida. Besteira. Já amei de verdade várias vezes. Sei como é. E é sempre amor sim, é amor daqueles de se querer dar a vida e se doar por inteiro, amor daqueles de cinema só que ainda mais bonito por ser de verdade. Ou talvez eu que seja assim, muito de me dar. Pode ser que eu que tenha muito amor dentro do peito e em todas as outras partes do corpo. Porque começa na garganta, e termina no meu sexo, e só se acaba pra poder começar de novo, pois que além de tudo meu bem, meu coração é reciclável e respeita a minha própria sustentabilidade. E isso de reciclagem é tendência no mundo inteiro.


Não tenho mais nada pra acrescentar sobre nós, amor. Acabaram-se até as palavras! Provável que já tenha descido pro estômago. Quando eu pousar já estará escorrendo pelos cabelos, que agora são é bem curtos pro teu desgosto e logo acaba. É que ás vezes pra começar a costurar a gente tem que dar vários nós até que fique grosso o suficiente pro nó teimoso que é não conseguir passar pelo buraquinho do tecido. Pode puxar, amor, que eu já to bem presa do outro lado e não volto, esse lado que é o meu lugar.


'Tô voando, bem agora, bem em cima das nuvens, bem em cima de uma imensidão de mar. Vou enterrar o infinito longe pro nó ficar ainda mais forte. Vou deixar esse infinito de amor do outro lado do mundo, que é pra me conformar com a falta do teu infinito.

Tchau, amor. Foi doce te amar pela manhã.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Amando Amanda

E foi uma avalanche. Um percorrer sucinto de acontecimentos lascivos que me levaram com ela. Cada pedacinho de mim, e assim, despedaçada. Porque qualquer forma de estar ao lado dela era válida, ainda que me queimasse em carne crua, aunque me levasse a exaustão. Porque eu havia esquecido deveras profundamente como era esse sentimento lívido de se querer à alguém mais que a si mesmo. Da vontade de se dar por completo, no sentido mais divino, e também no mais pagão. Da ânsia de se ter por completo, te ter em complexo, ser um lar. Teu doce lar, teu mais incontestável porto. Todo o meu coração pede para que seja em mim teu pouso. E do esquecimento remanescente acendeu-se um fogo maciço, alimentado pelas memórias mais ternas. Do primeiro toque, eu ainda lembro do calafrio ao dar-te aquele beijo. Da música a qual dançamos com o coração envolto de paixão e expectativa. Da prima viagem, e as saudades, e as palavras como canção de ninar. E então ser tua namorada, e ser tua, repetidas vezes tua. Dos gemidos e retorções, da tua boca em minha, das pernas enlaçadas. E conhecer teu mundo, e tua vida, e tua nascente. E me apaixonar por cada pedacinho de ti, despedaçado. Uma aliança tão sublime que me faz sucumbir ao medo. Amor, você não percebe que é medo? Eu temo absurdos, e me desaguo apavorada. Eu demorei uma maioridade pra me permitir sentir um outro ser de maneira tão intensa. Ao menor sinal da sensação de escorrer-me pelos dedos, eu descontrolo; Me traz a calma que eu te trago o amor. Dê cor a minha vida com o caos dos problemas; mas depois me envolva de paz, e eu te trarei a mim. Vem abrir o tempo na minha janela. O que é uma santa chuva de verão pra quem já carrega o infinito?

sábado, 1 de maio de 2010

30

Eu poderia achar inúmeras faces para as altercações que dançam atrás dos meus olhos neste segundo, pois que sempre fui boa em nomear as coisas; e em fazê-lo de forma subjetiva, dúbia, possibilitando olhares e interpretações conflitantes. Mas não hoje. Hoje, o que eu sinto circular pelas minhas veias é tão abstrato, tão intocável, que eu fico receosa de identificá-lo. É como um medo de ser engolida por mim mesma, como se eu rezasse para não cometer autofagia. Eu sempre fui um perigo para mim... Posso até dizer que lutei contra esse sentimento auto-destrutivo, e que torcia para perder. Essas luzes masoquistas me fazem seduzida, eu aprendi a gostar da dor num vasto quadro de significados, de forma doente, até me esgotar. Então, eu escolho agora para ser o instante do meu "T". Eu peço tempo, eu peço água, i surrender. Eu preciso de uma luz que realmente leve a noite embora, preciso de um pedacinho de ar nesse deserto de areia fina. (As máscaras não caíram, eu estou presa dentro da minha armadura!) É minha oração, i pray to be only yours. Eu preciso jogar pro meu time dessa vez, não faz mais sentido fazer gols contra.

Dar-te-ei olhos para forçar-te a enxergar, e isso dói: por não saber a quem envio essa súplica. Você é meu destino(átario)?

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

29

os outros são nós
e nós somos eu e tu
tão próximos que um só. um só
nó.

Fiz as malas. É que nunca dividimos a mesma cama ou os mesmos gostos... tínhamos os sonhos, a insaciável carência, a falta de algo tangível. Tínhamos nada além de nós mesmos e a necessidade de doar-se. Uma frenética química de enters num universo paralelo; meu amor, o nosso amor era de outro mundo. Não mandarei mais cartas, embora tenha decorado seu endereço. Tudo que restará meu em ti serão as minhas letras mal escritas no papel cor-de-rosa e nossa imagem e desemelhança. Porque o perfume doce eu aposto que já evaporou-se, até mesmo da sua memória.
Mas eu ainda preciso te dar meu último acalento, desta vez em forma de adeus: Todas as minhas linhas eram reais. Quis amar-te até sucumbir, nosso canto com cheiro de café e teu corpo sobre o meu a esgotar-me; eu não mentiria para os teus olhos... Eles jamais me perdoariam.
Então encaremos, a minha vida e a tua já não se abraçavam como antes. Protetor, eu soltei a sua mão e me machuquei e gostei disso. (você sabe como eu gosto de apanhar). Estávamos ambos desesperados, procurando um estopim para a nossa fissão; qualquer trapo serviu: Dorido alívio.
Eu te quero indo longe, e longe de mim. Voaremos em direções opostas, meu anjo. Mas sempre no mesmo sentido.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Pra ele

Meu amor, eu te respiro sexualmente abstrato. Eu te devoro de todas as maneiras que meus olhos e mãos encontram. Dos artifícios, talvez reduzidos, eu faço gasolina para continuar a combustão. Te quereria mil anos para trás e frente, e te terei por um pouco mais de tempo. Esse, é relativo para quem ama, pois eu viveria uma vida de solidão em troca de um dia de você. Solidão? Também é relatividade. Pelo menos sim quando eu tenho a nossa música, de alimento e companhia. Você está aqui, amor. Em cada canção que compartilhamos, em cada lembrança e momento tão nosso. Nós não nos resumimos em futuro. O que vivemos até agora é REAL. Somos o domingo chuvoso, e também todos os dias; fazer da aventura a nossa rotina, e a minha camisa xadrez favorita saberia envolver a nós dois (e envolve). Você está aqui. Transformando gotas d'agua em sorrisos; e,em cada ocasião onde enchi a boca pra falar de ti, cheia de orgulho, você esteve presente. E ainda assim eu te respiro, amor, sexualmente abstrato.

domingo, 27 de setembro de 2009

27

(não ligo. não doeu. doeu sim. não muito.)


Cansou de impressionar escolhendo palavras a dedo.
Cansou de impressionar.

Cansou de não se permitir sentir as dores d'alma.
Cansou de não se permitir.

Cansou de engolir tudo a seco rasgando a garganta.
Cansou de engolir.

Cansou de entregar-se aos deleites das noites embriagadas.
Cansou de entregar-se.

Cansou de acreditar em todos os sorrisos bem dados.
Cansou de acreditar.

Cansou de fingir que tudo estava perfeito afim de não parar o show.
Cansou de fingir.

Cansou de dormir achando que no dia seguinte tudo se resolveria.
Cansou de dormir.

Cansou de perder tempo com amores de olhos cegos.
Cansou de perder.

Cansou de sonhar com o dia em que as nuvens todas fossem brancas.
Cansou de sonhar.

Cansou de tentar ser tão indefectível.
Cansou de tentar.

Cansou de ser ingênuo
Cansou de ser devasso
Cansou de ser moreno
Cansou de ser palhaço

Cansou de ser tudo
Que todo mundo quer
Cansou de ser menino
Cansou de ser mulher

Esse poema é de um poeta exausto, que de tanto amar, cansou-se.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

26

Primeiro disparo. De raspão na perna, eu a senti estremecer, tentei chorar de desepero. A mais alva obra-de-arte abrível, já misturada em rubros tons. Mas ela era tão forte, não caiu. Permaneceu fortaleza, deu um passo falhado em minha direção, um braço estendido. Transpirava perseverança, eu via nos seus olhos marejados de dor que ela não ligava em sofrer por essa crença em mim. Choraria com gosto pelo que amava.

Segundo disparo. Ombro ferido. Ela ajoelhou-se segurando o sangue nas mãos. Eu podia sentir o cheiro da tinta pegajosa que gotejava no chão. As suas roupas estavam eternamente manchadas, chamuscadas e úmidas, já não tinham mais salvação. Nem eu. Nem ela. Sabe, nevava. Nenhuma tempestade, só o suficiente para manter congeladas as minhas lágrimas e os meus dedos, impedindo-me de puxar o gatilho. Pausa para a antecipada culpa me consumir, esta que fez-me fitar seus olhos: Tão similares aos meus, armazenavam a vida dela e a felicidade minha. Eu podia assistir nossos melhores momentos refletidos no brilho e nas lágrimas que percolavam os traços delicados. Eu nunca saberei ao certo, mas acredito ter visto um olhar clamante por piedade. Eu conseguia escutar os tão sonoros lábios, ainda que estes permanecessem imóveis. Parecia pedir-me para tomar consciência, para amar-lhe do jeito certo, do jeito que ela fazia...

Terceiro disparo. Ela fechou os olhos de imediato para que eu não pudesse ler mais nada dali. O corpo deitou-se vagarosamente e a pequena espessura branca no chão deu lugar ao rio vermelho que escorria. Larguei a prova do crime ali mesmo, sem medo de ser descoberta, e fiz sentar-me do seu lado. Ela era a minha branca de neve, me pertencia, agora ainda mais. Eu presenciei o último dos suspiros, tranquilo e doce, morte morrida para salvar-me. Ela sabia disso. O silêncio berrava em meus ouvidos; as lágrimas descongelaram, estas me esquentavam e cuidavam de mim. Ainda tive forças para pegá-la nos braços e dizer: 'I need to take her cold body home'.

domingo, 6 de setembro de 2009

25

Queria olhar nos olhos escuros dele na hora que ele soubesse, que descobrisse a minha vingança. Não que eu seja adepta desse tipo de coisinha inha, talvez ele até já saiba, mas dessa vez a razão me cobre. Aquele jeito de enxergar esponja, de ser blasé. O carinha que me tirou lágrimas hoje me faz rir, e por mais que eu tenha perdido a linha eu já esqueci que te esqueci. Morenos são facilmente esquecíveis. Agora não tente flexionar o gênero... Hoje ele é só uma referência a ela.

Eu nunca passei por isso. im so not easily impressed. Mas os nossos olhos são gêmeos. Bendita vodca que me jogou nos braços tão iguais aos meus. Nas curvas tão minhas, na boca rósea, nos traços delicados, ela é singular. Eu não consigo parar de pensar nas tuas mãos completando meus seios. Não que eu esteja apaixonada, é diferente. é só uma vontade passageira que não passa...

E depois do ridículo e do impróprio tem o mais puro de todos. Mas ele não é digno das minhas linhas infames. Ele é o pai das estrelas. O lugar dele é outro.

Um dia os ombros cansam de carregar tantos abortos.
Um dia a gente sente vontade de se entregar, de ir até as últimas adversidades.
Um dia eu passei a sentir inveja dos burros e inconsequentes.

você quer ser a minha (in)con-sequência?

domingo, 23 de agosto de 2009

24

me enxerga
me olha de verdade
com olhos tão vorazes
capazes
de milagres
acidentes maleáveis
eu sou mais que a sua gerência

me enxerga
não sou o que pareço
nem ao menos me importo
comporto
pureza
em defesa daqueles que amam
eu amo mais que a sua decência

me enxerga
sou feita de insanidade
minha é tua gargalhada
espalhada
no vento
me contento com tanto
eu rio mais que a sua dormência

me enxerga
mas me veja com vontade
mesma é a minha ética
esquelética
conhecendo
e metendo os pés pelas mãos
eu sei mais que a sua ciência

me enxerga
eu posso te deixar insano
te amar tranqüilo
ou omiti-lo
sem padrão
sem ter chão ou escudo
eu sinto mais que a sua carência

me enxerga
dentro de mim tem compasso
e amor pela arte
forte
absurdo
e em tudo eu tenho fé
eu quero mais que a sua ausência

domingo, 9 de agosto de 2009

23

Sabe.. A Rússia me amava! Sou clemente, sou clamante calmamente com ardor. Feita de letras numa casa de cartas em meio à ventania pontiaguda, e do mais puro concreto misturado ao sangue enlameado, saiam as cordas cobertas de tinta vermelho brilhante. Tudo fedia a vodca naquela maldita neve! Sabe... Eu era o amor da vida da França! Pura boêmia, nos mais parisienses becos que encontrei e eu continuava tão sob a influência daquelas garrafas que mal conseguia acompanhar 'la marseillaise'. E era tudo muito verde, mas eu não estou falando de bosques e arvoredos, e sim de algo muito mais utópico: as fadas. Sabe... Já fui amante da Inglaterra. Até me tornei da corte... Todos os dias eu atravesso aquela ponte, só por ser fã da liberdade, por respirar e trancar o ar depois até se sentir zonza e poder sentir a maravilhosa sensação de absorver o oxigênio novamente. E até me sentindo ridícula pois que adorava tampar os olhos, contar até 10 e depois descobri-los esperando encontrar então alguma novidade. Ânsia pelo novo. Ânsia de vômito. E sabe... Ninguém me quis mais que a Holanda, eu era o próprio muro de Berlim, guerras já foram travadas em meus ombros, e fui morta pisoteada por um touro. Até renasci para Oslo e seus fiordes, e como renascimento virei poesia. E ser poesia é a mais difícil das tarefas, porque quando se é palavra não somos só um, somos tudo e todas as coisas do mundo, somos o mundo! Eu sou a palavra, o mundo, a verdade e tudo que existe! Sou minha, mas tão minha que só sei ser se for pra ser de todos. Compartilhe-se.

sábado, 8 de agosto de 2009

22

É como se eu derretesse internamente e toda a nova massa não conseguisse se posicionar com precisão. Doente, não só o corpo pois que além do constante enjoô e aceleramento cardíaco, eu me sinto insana. Obssessivamente em paranóia, vasculhando em becos uma maquinaria capaz de registrar os movimentos tão fugazes teus, eu só desentendo. Como assim? Isso é para fracos, e a minha arrogância me põe num pedestal de super-mulher que aprendeu muito em pouco. Meus olhos, os dois em par, negam-se a absorver os mil impactos. O trem apita ao longe, a panela de pressão estoura, e eu me amarrei aos trilhos. Então surge o breve arrependimento, já inútil. Sei dar bons nós. Eu era tudo que você precisa.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

21

Gastei muitas páginas do meu bloco e nada pareceu realmente transmitir o que eu sentia, as palavras não pareciam vomitadas como deveriam. Eu senti a necessidade de algo agressivo nessas linhas, embasadas na raiva que senti, esta mesma que ainda sinto pingando e deixando um rastro sujo não-condizente com a típica camuflagem que uso. E o algo forte que encontrei para expectorar minha avidez foi a sinceridade: eu te amei, sabia? Do jeito mais imaturo e despretensioso que alguém já fez, mas amei. Nem tão supérfluo do que eu imaginava, porém não posso dizer que tenho boas memórias. Ou posso, mas não são tão boas assim... Te faltou tamanha masculinidade, apesar dos traços robustos teus. Eu senti falta de ter um homem do meu lado, que pensasse e agisse como tal. Eu só via uma criança, insegura, pisando em seus próprios pés de forma patética. Enxergando-se como superior, dono de toda a razão, e sendo só mais um que daria com a cara no vidro. Nem sempre as barreiras são visíveis, meu caro. E quando penso em todas as vezes que você me acusou, me negligenciou, me julgou erroneamente, não consigo separar da memória cada dia em que eu me senti culpada e obscena, imoralizada pelo mais sem moral de todos os tempos. Me sinto enojada e ao mesmo tempo não seguro o riso ao te imaginar cheio da bossa, com outras, quando na realidade é tão impotente que não conseguiu fazer ninguém feliz, nem a você mesmo. Eu não consigo aceitar o tanto que demorei pra perceber o quanto é bom ter alguém em casa que se preocupe e te encha de cuidados, e não consigo enfiar na cabeça como eu pude me contentar com issozinho que você me ofereceu. Além de ser pouco, era uma merda. E hoje eu tenho tudo o que sempre quis, semi-utópicamente: um só e vários ao mesmo tempo, vivendo em perfeita harmonia. Meu ideal de open relationship estava aqui o tempo todo e precisei quebrar a cara 30 vezes (contadas) para enxergá-lo. Eu me sinto viva, renovada, me sinto limpa e linda, me sinto boa, me valorizo. No fundo, eu quase te devo um obrigada, por ter reaprendido a me amar. Eles têm um gosto muito mais doce, e eu já sei: Tempos bons estão por vir.

sábado, 16 de maio de 2009

20


Excepcional: Manhã e noite, gélidas. Bem do jeito que eu amo-odeio, todos os dias. Os preceitos a serem cumpridos mais as minhas guerrilhas pseudointernas, meus porres e gafes, meus amores incorretamente amados, e sem esquecer de somar os raros momentos de sobriedade: tudo isso quis botar num texto que fosse tão frio quanto você. Tão frio quanto eu me achei ser a vida toda... Eu nunca quis ser forte. É bom ser amparada, ter asas protetoras te cubrindo, ser frágil é tão cheio de simplicidade! Eu digo: alegre-se com seu pranto. Ele é uma dádiva. Chorar é tão maravilhoso! É banhar-se por dentro, é exorcizar seus demônios, é lindo e ameniza as dores. Eu tenho inveja quando vejo uma lágrima rolar do rosto de alguém, pois eu... eu não possuo esse dom. Eu me bloqueio, meu sistema de alarme tranca tudo, e por mais que doa, a água não escorre. Fica presa nos olhos implorando pra sair, mas fica. Eu queria ser uma cachoeira de sal aguado, fraquinha. Mas a vida quis diferente. Ela mandou eu sair na rua e apanhar até não aguentar mais. Depois disse para eu passar meses de ressaca e amadurecer até quase apodrecer. E tanto fortaleza virei, que os olhos desidrataram e eu aprendi a deixar partir as coisas que amo. Eu sou suficientemente sólida para isso. E nisso confundi o quesito sensação térmica das coisas, de mim. Minhas mãos podem ser frias mas por dentro eu fervo. Um bloco rijo de gelo quente, derretendo cada vez mais endurecido. Eu nunca quis ser forte.

sábado, 9 de maio de 2009

19

O clima não enregelou apenas as mãos, esfriei ainda que fervendo, alobotômica. O gosto de fruta inextinguivel se mixa furtivamente ao sabor ferrugem da dele. Mais amargo, estou ciente, mas ainda meu preferido. Não escolhido, se fosse opcional eu me manteria saudável. Fruta é saudável, é degustável. Sangue não. Sangrar exije cortes, dor. Mas são cortes seus, a língua é minha, a boca é sua! E por que a faca atinge a mim?

terça-feira, 21 de abril de 2009

18

Era a noite. A já ansiada antes, chegando ferozmente delirante. Foi-se um copo e com ele a lucidez, não só a minha mas a de todas. Todos. Como se dedos imundos pudessem alterar a velocidade dos meus ponteiros mentais, ela foi embora como um vulto, assim como ele. Pois naquele esperado enoitecer, uma bomba de mentiras, descrença e volúpia fez com que o chão abrisse, mas vocês permaneceram em pé. alguns não. alguns eu, alguns tu. A minha boca sangrou, e a dele secou enquanto meu pulso era fortemente segurado. Dois olhos não bastaram para tamanha mágoa, e no dia seguinte... ah, no dia seguinte: choveu.