sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

31

E vai doer um pouquinho menos a cada dia. Hoje dói na garganta e nos pulmões, como berros de angústia reprimidos. E depois vai doer no estomago porque eu vou tentar remoer a história. Então vai se dissipar por todo o corpo, para os pés e a nuca e os olhos e até os cotovelos. Por fim doerá no meu sexo, e acaba. Eu sempre que fui bem desentendida, custosa pra compreender entrelinhas. Não me dou bem com ironias e sarcasmos, eu sou bem clara, limpinha. Mas com certeza é a mais complexa de todas, com início e fim e sem meio, sem entremeios, que eu já vivi. Era uma vez um casal de menininhas lésbicas apaixonadas vivendo numa ilha ensolarada. E daí o amor morreu.

Mesmo sabendo que todos os erros foram seus, ursinha, eu me sinto culpada. De não ter percebido a falta de reciprocidade, de não ter reconhecido tuas reais necessidades. Não que isso fosse nos salvar, mas te salvaria um pouquinho, e me salvaria um monte. E agora eu fui embora, amor, e você... você voltou pra ela. E eu voltei pro escuro. Apesar de que toda essa neve é bem do clara, e limpinha, eu voltei pro meu escuro dark sombrio modo de enxergar as coisas. Love is fake, everybody's sad, life is dirty, i can see rotness in every little thing.

Eu 'tô no topo do mundo, amor. Eu ia gostar de conhecer tudo isso contigo, mas agora não és mais minha nunca mais. Ainda dói mas dói menos quando eu lembro que passa. Tudo passa. Eu sei que a tua frase preferida é 'Você é imatura', mas desculpa amor, você é tão tolinha. De achar que eu sou crua, porque eu já vivi tanta coisa, tanta coisa ruim. Eu já 'tô apodrecendo, e é esse meu medo, de apodrecer antes de ter sido feliz.

Acho que naquele dia 30, antes da meia-noite, eu fui feliz. Acho que as coisas ficam realmente muito boas antes de piorarem. Ou seria o contrário? A cinderela também virou abóbora depois da meia-noite e ela teve final feliz. Talvez eu tenha também. Talvez eu ame desse jeito louco que eu te amei de novo, e seja assim feliz de novo. E talvez dessa vez seja completo. Sem restrições. Até melhor.

Eu 'tô continentes longe de casa agora, milhas e milhas e milhas de água nos separando. E saber que as nossas próprias barreiras invisíveis são mais fortes do que todo esse oceano de distância. Tomara que ela te faça feliz. Mas eu acredito que não. Acredito que ela já tinha desperdiçado a chance dela, sabe. Quem sabe? No fundo do fundo do fundo eu queria que o mundo fizesse click e daí tu resolvestes me amar. O que ia ser triste também porque eu não vou te amar pra sempre. Nem até o final do mês.


Têm gente que fala que amor de verdade é só uma vez na vida. Besteira. Já amei de verdade várias vezes. Sei como é. E é sempre amor sim, é amor daqueles de se querer dar a vida e se doar por inteiro, amor daqueles de cinema só que ainda mais bonito por ser de verdade. Ou talvez eu que seja assim, muito de me dar. Pode ser que eu que tenha muito amor dentro do peito e em todas as outras partes do corpo. Porque começa na garganta, e termina no meu sexo, e só se acaba pra poder começar de novo, pois que além de tudo meu bem, meu coração é reciclável e respeita a minha própria sustentabilidade. E isso de reciclagem é tendência no mundo inteiro.


Não tenho mais nada pra acrescentar sobre nós, amor. Acabaram-se até as palavras! Provável que já tenha descido pro estômago. Quando eu pousar já estará escorrendo pelos cabelos, que agora são é bem curtos pro teu desgosto e logo acaba. É que ás vezes pra começar a costurar a gente tem que dar vários nós até que fique grosso o suficiente pro nó teimoso que é não conseguir passar pelo buraquinho do tecido. Pode puxar, amor, que eu já to bem presa do outro lado e não volto, esse lado que é o meu lugar.


'Tô voando, bem agora, bem em cima das nuvens, bem em cima de uma imensidão de mar. Vou enterrar o infinito longe pro nó ficar ainda mais forte. Vou deixar esse infinito de amor do outro lado do mundo, que é pra me conformar com a falta do teu infinito.

Tchau, amor. Foi doce te amar pela manhã.

2 comentários:

Junkie Careta disse...

Betriz,
ficar ausente da blogesfera por um tempo, dos amigos que admiramos o talento(por causa do vil metal, contas,essas coisas sem poesia, porém necessárias...)tem suas compensações. Quando se volta,voltamos rejuvenescidos e a sensação de reencontro causa uma impressão de novidade, de primeira vez. Reencontro o seu talento evidente. É prazeroso encontrar uma poetisa, um poeta, ainda longe dos holofotes, é como garimpar vinis num sebo e achar um Tom Waits no meio de tudo,um Sonic Youth perdido,um Mutantes fora de catálogo que vc não conhecia. Essa foi a sensação que tive ao ler seu texto.

Meus parabéns sincero. Seu texto é instigante, envolvente, fluido, franco.

De minha parte, eu voltei a escrever depois de mais um longo e tenebroso inverno. Estou convidando os amigos para compartilhar o que talvez possa ser até a última página do Spleen-Rosa-Chumbo,dessa vez muito pouco rosa e muitissimo chumbo.

Traga uns lenços, uma pipoca, uma vitamina k(para cicatrizar),um estojo de primeiros socorros,um estõmago forte e um coração à prova de bala.

Apareça quando puder

Bjo

Luiz Ricardo disse...

que bom de ler, fui me perdendo nas tuas metaforas.. saudades de quando eu sabia metaforar desse jeito. e que bom te ler, at all, bia.. nunca tinha parado pra ler aqui de fato. stay on top