sexta-feira, 6 de abril de 2012

33

Eu não tenho a menor noção de quem eu seja. Todo o ego, auto-afirmação, social pose, tudo vão, tudo vil. Na realidade, eu morro de medo de quem eu seja, fujo incansavelmente das minhas próprias verdades. Engraçado, nossa galáxia tem 120 mil anos-luz de diâmetro, e o sistema solar leva 250 milhões de anos para dar uma única volta ao redor de sua órbita. Sou um átomo dentro da densa vastidão universal. Parece tão tolo, tão insignificante, esse desejo ardente de encontrar-me e reencontrar-me todos os dias. Mas também temos mais neurônios no cérebro do que estrelas na via-láctea, sabe? Eu sou do tamanho da imensidão. Consciente. Minha mente inquieta alavancada por um coração quente como lava. Os pensamentos que me rodeiam, ora como borboletas, ora como corvos, me fazendo ignorar quem se esconde por trás do buraco, o meu mais puro intrínseco eu; reflete na luz cortante da perseverante insatisfação, eterna graça de estar constantemente incompleta. Só sei que nada sei. Sou.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Do you?

I do. Eu aceito e te aceito de todo o meu coração. Tuas verdades repetitivas, tuas mentiras tão bem camufladas. Aceito que não sejas quem eu queria, e aceito que simplesmente não sejas na minha vida. Eu aceito que dói, e faço dessa dor um alívio. Aceito os teus erros pra poder aceitar esse meu próprio de amar docemente teu jeito de me olhar. Aceito tua loucura, pra que não me sinta louca sozinha. Pra fazer jus a essa clareza repentina me guiando ao certo. Já neguei tua ida, já tive raiva, já te quis mal. Já tentei negociar-me em deleite à outras, já te tenho tatuada em minha pele... Bonita, eu vi o mundo perder sentido. Agora vem a certeza abençoada e leve da aceitação: and so it is, erramos. Fizemos de nós dois nós. Eu que sou boa nisso de atar até outrora ainda me via presa, mas agora não. Aceitar que te sinto é tudo que me leva a liberdade. Respiro e inspiro livre! Livre das amarguras da mentira, posso jorrar meu coração em palavras, me permitir sentir, te amar limpo. Aceito a mágoa e, perdoando a ti e a mim, destilo-a em pura afeição. Aceito que seja somente dentro de mim, e torço para que aceites que dentro de ti também não morreu. Aceito que sejas feliz: vai e derrama o teu olhar meu ao acaso, alimente-se de outra fonte, sorria por outro sorriso, chore de outras angústias. Te quero bem, forte, sensata; lúcida e louca como sempre. Te quero em paz, pequena. Que assim eu vou estar em paz também. Que assim todo o meu amor fica em paz. Que assim eu posso fechar os meus olhos a noite como quem beija os teus, te fazer uma oração, repetir pra mim mesma: "I do."