domingo, 27 de setembro de 2009

27

(não ligo. não doeu. doeu sim. não muito.)


Cansou de impressionar escolhendo palavras a dedo.
Cansou de impressionar.

Cansou de não se permitir sentir as dores d'alma.
Cansou de não se permitir.

Cansou de engolir tudo a seco rasgando a garganta.
Cansou de engolir.

Cansou de entregar-se aos deleites das noites embriagadas.
Cansou de entregar-se.

Cansou de acreditar em todos os sorrisos bem dados.
Cansou de acreditar.

Cansou de fingir que tudo estava perfeito afim de não parar o show.
Cansou de fingir.

Cansou de dormir achando que no dia seguinte tudo se resolveria.
Cansou de dormir.

Cansou de perder tempo com amores de olhos cegos.
Cansou de perder.

Cansou de sonhar com o dia em que as nuvens todas fossem brancas.
Cansou de sonhar.

Cansou de tentar ser tão indefectível.
Cansou de tentar.

Cansou de ser ingênuo
Cansou de ser devasso
Cansou de ser moreno
Cansou de ser palhaço

Cansou de ser tudo
Que todo mundo quer
Cansou de ser menino
Cansou de ser mulher

Esse poema é de um poeta exausto, que de tanto amar, cansou-se.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

26

Primeiro disparo. De raspão na perna, eu a senti estremecer, tentei chorar de desepero. A mais alva obra-de-arte abrível, já misturada em rubros tons. Mas ela era tão forte, não caiu. Permaneceu fortaleza, deu um passo falhado em minha direção, um braço estendido. Transpirava perseverança, eu via nos seus olhos marejados de dor que ela não ligava em sofrer por essa crença em mim. Choraria com gosto pelo que amava.

Segundo disparo. Ombro ferido. Ela ajoelhou-se segurando o sangue nas mãos. Eu podia sentir o cheiro da tinta pegajosa que gotejava no chão. As suas roupas estavam eternamente manchadas, chamuscadas e úmidas, já não tinham mais salvação. Nem eu. Nem ela. Sabe, nevava. Nenhuma tempestade, só o suficiente para manter congeladas as minhas lágrimas e os meus dedos, impedindo-me de puxar o gatilho. Pausa para a antecipada culpa me consumir, esta que fez-me fitar seus olhos: Tão similares aos meus, armazenavam a vida dela e a felicidade minha. Eu podia assistir nossos melhores momentos refletidos no brilho e nas lágrimas que percolavam os traços delicados. Eu nunca saberei ao certo, mas acredito ter visto um olhar clamante por piedade. Eu conseguia escutar os tão sonoros lábios, ainda que estes permanecessem imóveis. Parecia pedir-me para tomar consciência, para amar-lhe do jeito certo, do jeito que ela fazia...

Terceiro disparo. Ela fechou os olhos de imediato para que eu não pudesse ler mais nada dali. O corpo deitou-se vagarosamente e a pequena espessura branca no chão deu lugar ao rio vermelho que escorria. Larguei a prova do crime ali mesmo, sem medo de ser descoberta, e fiz sentar-me do seu lado. Ela era a minha branca de neve, me pertencia, agora ainda mais. Eu presenciei o último dos suspiros, tranquilo e doce, morte morrida para salvar-me. Ela sabia disso. O silêncio berrava em meus ouvidos; as lágrimas descongelaram, estas me esquentavam e cuidavam de mim. Ainda tive forças para pegá-la nos braços e dizer: 'I need to take her cold body home'.

domingo, 6 de setembro de 2009

25

Queria olhar nos olhos escuros dele na hora que ele soubesse, que descobrisse a minha vingança. Não que eu seja adepta desse tipo de coisinha inha, talvez ele até já saiba, mas dessa vez a razão me cobre. Aquele jeito de enxergar esponja, de ser blasé. O carinha que me tirou lágrimas hoje me faz rir, e por mais que eu tenha perdido a linha eu já esqueci que te esqueci. Morenos são facilmente esquecíveis. Agora não tente flexionar o gênero... Hoje ele é só uma referência a ela.

Eu nunca passei por isso. im so not easily impressed. Mas os nossos olhos são gêmeos. Bendita vodca que me jogou nos braços tão iguais aos meus. Nas curvas tão minhas, na boca rósea, nos traços delicados, ela é singular. Eu não consigo parar de pensar nas tuas mãos completando meus seios. Não que eu esteja apaixonada, é diferente. é só uma vontade passageira que não passa...

E depois do ridículo e do impróprio tem o mais puro de todos. Mas ele não é digno das minhas linhas infames. Ele é o pai das estrelas. O lugar dele é outro.

Um dia os ombros cansam de carregar tantos abortos.
Um dia a gente sente vontade de se entregar, de ir até as últimas adversidades.
Um dia eu passei a sentir inveja dos burros e inconsequentes.

você quer ser a minha (in)con-sequência?