sábado, 16 de maio de 2009

20


Excepcional: Manhã e noite, gélidas. Bem do jeito que eu amo-odeio, todos os dias. Os preceitos a serem cumpridos mais as minhas guerrilhas pseudointernas, meus porres e gafes, meus amores incorretamente amados, e sem esquecer de somar os raros momentos de sobriedade: tudo isso quis botar num texto que fosse tão frio quanto você. Tão frio quanto eu me achei ser a vida toda... Eu nunca quis ser forte. É bom ser amparada, ter asas protetoras te cubrindo, ser frágil é tão cheio de simplicidade! Eu digo: alegre-se com seu pranto. Ele é uma dádiva. Chorar é tão maravilhoso! É banhar-se por dentro, é exorcizar seus demônios, é lindo e ameniza as dores. Eu tenho inveja quando vejo uma lágrima rolar do rosto de alguém, pois eu... eu não possuo esse dom. Eu me bloqueio, meu sistema de alarme tranca tudo, e por mais que doa, a água não escorre. Fica presa nos olhos implorando pra sair, mas fica. Eu queria ser uma cachoeira de sal aguado, fraquinha. Mas a vida quis diferente. Ela mandou eu sair na rua e apanhar até não aguentar mais. Depois disse para eu passar meses de ressaca e amadurecer até quase apodrecer. E tanto fortaleza virei, que os olhos desidrataram e eu aprendi a deixar partir as coisas que amo. Eu sou suficientemente sólida para isso. E nisso confundi o quesito sensação térmica das coisas, de mim. Minhas mãos podem ser frias mas por dentro eu fervo. Um bloco rijo de gelo quente, derretendo cada vez mais endurecido. Eu nunca quis ser forte.

sábado, 9 de maio de 2009

19

O clima não enregelou apenas as mãos, esfriei ainda que fervendo, alobotômica. O gosto de fruta inextinguivel se mixa furtivamente ao sabor ferrugem da dele. Mais amargo, estou ciente, mas ainda meu preferido. Não escolhido, se fosse opcional eu me manteria saudável. Fruta é saudável, é degustável. Sangue não. Sangrar exije cortes, dor. Mas são cortes seus, a língua é minha, a boca é sua! E por que a faca atinge a mim?