sábado, 16 de maio de 2009

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Excepcional: Manhã e noite, gélidas. Bem do jeito que eu amo-odeio, todos os dias. Os preceitos a serem cumpridos mais as minhas guerrilhas pseudointernas, meus porres e gafes, meus amores incorretamente amados, e sem esquecer de somar os raros momentos de sobriedade: tudo isso quis botar num texto que fosse tão frio quanto você. Tão frio quanto eu me achei ser a vida toda... Eu nunca quis ser forte. É bom ser amparada, ter asas protetoras te cubrindo, ser frágil é tão cheio de simplicidade! Eu digo: alegre-se com seu pranto. Ele é uma dádiva. Chorar é tão maravilhoso! É banhar-se por dentro, é exorcizar seus demônios, é lindo e ameniza as dores. Eu tenho inveja quando vejo uma lágrima rolar do rosto de alguém, pois eu... eu não possuo esse dom. Eu me bloqueio, meu sistema de alarme tranca tudo, e por mais que doa, a água não escorre. Fica presa nos olhos implorando pra sair, mas fica. Eu queria ser uma cachoeira de sal aguado, fraquinha. Mas a vida quis diferente. Ela mandou eu sair na rua e apanhar até não aguentar mais. Depois disse para eu passar meses de ressaca e amadurecer até quase apodrecer. E tanto fortaleza virei, que os olhos desidrataram e eu aprendi a deixar partir as coisas que amo. Eu sou suficientemente sólida para isso. E nisso confundi o quesito sensação térmica das coisas, de mim. Minhas mãos podem ser frias mas por dentro eu fervo. Um bloco rijo de gelo quente, derretendo cada vez mais endurecido. Eu nunca quis ser forte.

5 comentários:

Isadora Cecatto disse...

Sabe o que é pior? Passar a vida inteira entregando-se à fraqueza inata, aparentemente infindável, imaginando que não há formas de ser diferente. E querendo ser. Querendo afogar rapidamente as lágrimas ridículas que teimam em desenhar curvas sinuosas na face já encharcada. É sentir-se pequena por tanto sentir. Por tanto exteriorizar, por tanto amar em público, gritar em voz alta o sufoco e prantear com força as dores que deveriam manter-se resguardadas. Orando por rigidez e força.

Eis que de repente, numa manhã qualquer, acordei sentindo-me dura. Vi meu coração amanteigado dar lugar à frieza pela qual sempre implorei. E agradeci. Insana, inconsequente, não mais (in)tensa. Sem saber da dor posterior ao resguardar-se. Engolir a si mesma é difícil. Consegue ser insuportável, no entanto, quando já foi conhecido o outro lado, o da lágrima. É ainda mais difícil que transbordar, irrefreável, jamais dura.

Legal saber que escreves! Amei isso aqui e espero ter mais coisas pra ler logo =)
Beijo grande!

Gabyh Banki disse...

hey, estava com saudades de aparecer por aqui. dei sorte de visitar um texto tão forte. é confuso essa coisa de resistência, lágrima, esse transparecer da alma.
eu sou daquelas que chora litros; é verdade. mas me faço de rigída sempre. é dificil tb.
td lindo. adorei. beijinhos ;*

Don disse...

caralho! muito foda! gostei, gostei mesmo! Essa sinestesia de sensações que tu usa é muito legal. Parabéns pelo blog e dê-me licença, vou dar mais uma lida ((:

Augusto Rosa Leite disse...

..."meus porres"....

sim claro,


porque não?

haha

antes saber ser forte e não precisar

do que não saber e precisasr.

Junkie Careta disse...

Comovente baby...

Sei o que é se sentir assim.

Creia, um dia vc vai dar risada de tudo isso.E pra ser bem clichê, o riso(algum desses poetas banais já disse) é a lagrima de costas.

Você quando sangra por aqui, faz com os outros, aquilo que diz que não consegue fazer contigo mesma.

Você é um talento.