domingo, 23 de agosto de 2009

24

me enxerga
me olha de verdade
com olhos tão vorazes
capazes
de milagres
acidentes maleáveis
eu sou mais que a sua gerência

me enxerga
não sou o que pareço
nem ao menos me importo
comporto
pureza
em defesa daqueles que amam
eu amo mais que a sua decência

me enxerga
sou feita de insanidade
minha é tua gargalhada
espalhada
no vento
me contento com tanto
eu rio mais que a sua dormência

me enxerga
mas me veja com vontade
mesma é a minha ética
esquelética
conhecendo
e metendo os pés pelas mãos
eu sei mais que a sua ciência

me enxerga
eu posso te deixar insano
te amar tranqüilo
ou omiti-lo
sem padrão
sem ter chão ou escudo
eu sinto mais que a sua carência

me enxerga
dentro de mim tem compasso
e amor pela arte
forte
absurdo
e em tudo eu tenho fé
eu quero mais que a sua ausência

domingo, 9 de agosto de 2009

23

Sabe.. A Rússia me amava! Sou clemente, sou clamante calmamente com ardor. Feita de letras numa casa de cartas em meio à ventania pontiaguda, e do mais puro concreto misturado ao sangue enlameado, saiam as cordas cobertas de tinta vermelho brilhante. Tudo fedia a vodca naquela maldita neve! Sabe... Eu era o amor da vida da França! Pura boêmia, nos mais parisienses becos que encontrei e eu continuava tão sob a influência daquelas garrafas que mal conseguia acompanhar 'la marseillaise'. E era tudo muito verde, mas eu não estou falando de bosques e arvoredos, e sim de algo muito mais utópico: as fadas. Sabe... Já fui amante da Inglaterra. Até me tornei da corte... Todos os dias eu atravesso aquela ponte, só por ser fã da liberdade, por respirar e trancar o ar depois até se sentir zonza e poder sentir a maravilhosa sensação de absorver o oxigênio novamente. E até me sentindo ridícula pois que adorava tampar os olhos, contar até 10 e depois descobri-los esperando encontrar então alguma novidade. Ânsia pelo novo. Ânsia de vômito. E sabe... Ninguém me quis mais que a Holanda, eu era o próprio muro de Berlim, guerras já foram travadas em meus ombros, e fui morta pisoteada por um touro. Até renasci para Oslo e seus fiordes, e como renascimento virei poesia. E ser poesia é a mais difícil das tarefas, porque quando se é palavra não somos só um, somos tudo e todas as coisas do mundo, somos o mundo! Eu sou a palavra, o mundo, a verdade e tudo que existe! Sou minha, mas tão minha que só sei ser se for pra ser de todos. Compartilhe-se.

sábado, 8 de agosto de 2009

22

É como se eu derretesse internamente e toda a nova massa não conseguisse se posicionar com precisão. Doente, não só o corpo pois que além do constante enjoô e aceleramento cardíaco, eu me sinto insana. Obssessivamente em paranóia, vasculhando em becos uma maquinaria capaz de registrar os movimentos tão fugazes teus, eu só desentendo. Como assim? Isso é para fracos, e a minha arrogância me põe num pedestal de super-mulher que aprendeu muito em pouco. Meus olhos, os dois em par, negam-se a absorver os mil impactos. O trem apita ao longe, a panela de pressão estoura, e eu me amarrei aos trilhos. Então surge o breve arrependimento, já inútil. Sei dar bons nós. Eu era tudo que você precisa.